
Jamile Nusse
31 de mar. de 2025
Em um mundo onde o otimismo é frequentemente exaltado como um ideal a ser alcançado, muitas pessoas, inclusive líderes espirituais, incentivam a manutenção de uma mentalidade 100% positiva. No entanto, essa busca incessante pela positividade pode ser não apenas inalcançável, mas também prejudicial. A realidade humana é composta por altos e baixos, e todas as emoções, tanto positivas quanto negativas, desempenham um papel fundamental no nosso desenvolvimento e bem-estar.
A necessidade de emoções negativas
Sentimentos como tristeza, raiva e frustração não são meramente "ruins" ou "indesejáveis"; eles existem por uma razão. Do ponto de vista biológico e psicológico, essas emoções são sinais que nos alertam sobre problemas que precisam ser resolvidos. A tristeza pode nos ajudar a processar perdas, enquanto a raiva pode indicar que nossos limites foram ultrapassados. Quando ignoramos ou reprimimos essas emoções, corremos o risco de desenvolver problemas como ansiedade, depressão e até mesmo doenças físicas decorrentes do estresse acumulado.
Positividade tóxica: quando o otimismo se torna um problema.
A busca constante pela positividade, sem permitir espaço para sentimentos negativos, leva àquilo que é chamado de positividade tóxica. Esse fenômeno ocorre quando sentimentos válidos são invalidados em prol de um otimismo forçado. Frases como "não pense nisso", "só atraia coisas boas" e "apenas sorria" podem fazer com que uma pessoa se sinta culpada por experiências emocionais naturais. Estudos na psicologia mostram que reprimir emoções negativas pode levar ao aumento da ansiedade e até mesmo a comportamentos destrutivos.
Um exemplo: a raiva
A raiva é uma emoção natural e comum a todos os seres humanos. O que pode ser prejudicial não é senti-la, mas a forma como lidamos com ela. Explodir, gritar com os outros, agir impulsivamente ou destruir relações por conta da raiva pode ter consequências negativas. No entanto, ignorá-la também pode ser perigoso, pois sentimentos reprimidos acabam encontrando saída de formas inesperadas e, muitas vezes, destrutivas.
Existem maneiras saudáveis de canalizar a raiva sem causar danos a si mesmo ou aos outros. Algumas alternativas incluem:
Gritar em um travesseiro para liberar a tensão acumulada.
Escrever sobre os sentimentos, permitindo que as emoções sejam expressas.
Praticar atividades físicas, como corrida ou luta, para descarregar a energia intensa da raiva.
Para aqueles que seguem um caminho espiritual, realizar uma magia para transformar essa energia pode ser uma excelente opção. Em vez de projetar a raiva em outras pessoas, é possível direcioná-la para uma vela, pedindo que uma divindade ajude a equilibrar essa emoção e convertê-la em aprendizado e fortalecimento interno.
A chave é buscar o equilíbrio. Luz demais pode cegar, assim como a escuridão excessiva pode nos fazer perder o caminho. Somos seres humanos, e é natural termos momentos bons e ruins. Muitos livros espirituais incentivam a evitar pensamentos e palavras negativas, mas é importante lembrar que sentir e expressar emoções como tristeza ou raiva não nos torna menos evoluídos. Falar um palavrão em um momento de frustração não define a nossa jornada espiritual; o que realmente importa é como lidamos com essas emoções e o que fazemos com elas.
Ser positivo o tempo todo não é realista e pode ser prejudicial. A vida é um fluxo constante de experiências, e cada emoção tem seu espaço e sua função. Em vez de buscar uma felicidade forçada, o ideal é encontrar formas saudáveis de lidar com os momentos difíceis, permitindo-se sentir, aprender e evoluir. O verdadeiro bem-estar está na autenticidade e no equilíbrio emocional.