
Jamile Nusse
5 de abr. de 2025
Entre as perguntas mais comuns nos oráculos, existe uma que aparece com uma frequência quase assustadora:
“Ele é minha alma gêmea?”
Essa busca constante por um amor que seja “destinado” tem revelado um fenômeno preocupante no universo espiritual: a romantização exagerada das chamadas almas gêmeas, tanto por parte de quem consulta, quanto por quem lê as cartas.
A ilusão do amor perfeito
Existe uma ideia encantadora — alimentada por filmes, livros e contos românticos — de que existe alguém perfeito para nós. Que um dia, essa pessoa vai surgir, nos reconhecer com o olhar e tudo finalmente fará sentido.
Mas a vida real não funciona assim. Nem mesmo na espiritualidade.
Amor não é mágica. E por mais que existam conexões profundas entre almas, isso não significa que o relacionamento será fácil, perfeito ou sem desafios. Acreditar que uma alma gêmea vai te “completar” e curar todas as suas dores é uma ilusão perigosa.
Na prática, ninguém é perfeito. Todos temos algo que pode incomodar o outro — e muitas vezes, não é nem um erro, apenas uma diferença. Esperar que o amor verdadeiro seja um conto de fadas é abrir portas para frustrações e sofrimentos desnecessários.
O comportamento das consulentes
Muitas pessoas hoje em dia não conseguem nem começar a se interessar por alguém sem correr para perguntar às cartas se é alma gêmea. A conexão mal começou e já existe uma ansiedade enorme por rótulos espirituais, como se o valor de uma relação dependesse disso.
Outras, ao ouvirem que a pessoa não é alma gêmea, terminam relacionamentos que estavam indo bem. E, o que é mais preocupante: há quem permaneça em relações tóxicas e até abusivas simplesmente porque foi dito que era uma relação de alma.
A responsabilidade de quem lê as cartas
Cartomantes, tarólogas e oraculistas têm um papel muito sério. Suas palavras têm peso, especialmente quando o consulente está emocionalmente vulnerável. Dizer que alguém é alma gêmea sem responsabilidade, sem preparo e sem consciência, pode prender uma pessoa a uma história que só vai causar dor.
Nem tudo que vem de vidas passadas precisa continuar nesta. Nem toda conexão profunda é para durar. E só porque o laço é forte, não quer dizer que seja saudável.
É uma irresponsabilidade espiritual usar o termo “alma gêmea” como justificativa para aguentar o que machuca, ou como motivo para abandonar algo que estava funcionando bem.
Um relacionamento consciente é melhor que qualquer rótulo
Em vez de procurar uma “alma gêmea”, que tal buscar alguém que te respeite, te ouça, te veja de verdade?
Relacionamentos são construídos. E mesmo conexões espirituais precisam de escolhas conscientes, limites claros e amor verdadeiro — aquele que cuida e não machuca.
Não se deixe levar por qualquer discurso espiritualizado. Nem todo mundo que trabalha com espiritualidade está preparado para te orientar. Observe valores, postura, ética e, principalmente, se aquilo que é dito te faz bem ou mal.
Confie no que faz sentido no seu coração, e não no que te deixa dependente, insegura ou presa em ilusões.
Você merece viver um amor verdadeiro — mas não um amor imaginado. Um amor que acontece na realidade, com presença, reciprocidade e respeito.