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Seidhr: Magia nórdica - Deusa Freya - Casa de Magia Vanadis

Jamile Nusse

6 de ago. de 2025

Nas brumas da antiga magia germânica, entre os mitos e as práticas esquecidas, ressurge um saber ancestral envolto em mistério e poder: o Seidhr. Trata-se de uma prática magística que remonta à era pré-cristã do norte da Europa, notoriamente ligada à espiritualidade nórdica e, em especial, à figura da deusa Freya — senhora da magia, do amor e da morte.


Com o tempo, o Seidhr foi injustamente envolto numa aura sombria. Isso se deve, em parte, ao fato de ser uma forma de magia praticada majoritariamente por mulheres, o que incomodava os modelos patriarcais que se consolidaram posteriormente. Ainda assim, sua essência permanece viva em textos antigos, na arqueologia e nas tradições magísticas que se preservaram ao longo dos séculos.


O que é Seidhr?


O Seidhr é uma prática espiritual de transe profundo, visão profética e manipulação sutil das forças invisíveis. Ao contrário de outras formas de magia nórdica, como o uso das runas (galdr), o Seidhr está enraizado na indução de estados alterados de consciência, onde o praticante — seiðkona (mulher) ou seiðmaðr (homem) — se desconecta da realidade cotidiana para acessar informações vindas de outros mundos ou planos espirituais.


Na mitologia, é dito que o próprio Odin, o deus da sabedoria e da morte, aprendeu essa arte com Freya, reconhecendo nela um poder que nem mesmo ele possuía. Isso por si só já indica o peso espiritual e magístico do Seidhr no panteão nórdico.


A etimologia e o canto como chave


A origem da palavra seidhr ainda é debatida. Alguns estudiosos descartam qualquer relação com o verbo inglês “seethe” (fervilhar), frequentemente confundido com o termo. É mais plausível que o significado se relacione a alguma forma de vocalização ritualística, especialmente cantos mágicos. Essa vocalização era parte central do processo — seja para atrair espíritos, invocar forças ocultas ou entoar canções destinadas a alterar a realidade (magia).


Essas canções não eram apenas entoadas pelo praticante, mas também por assistentes — geralmente mulheres — que, através do ritmo e da repetição, induziam o seiðkona ao transe. Essa prática é frequentemente descrita em fontes antigas como sendo realizada em um espaço elevado, como uma plataforma de madeira ou uma colina, elevando simbolicamente o praticante entre os mundos.


O ritual do transe


O Seidhr exigia preparação. Objetos sagrados, talismãs e instrumentos magísticos eram dispostos em caixas ou bolsas, que por vezes serviam também como instrumentos de percussão — batidas ritmadas que auxiliavam no processo de indução ao transe. Durante o ritual, o praticante entrava em silêncio absoluto, permitindo que sua consciência ordinária se dissolvesse enquanto a mente espiritual emergia.


Nesse estado alterado, o praticante podia viajar espiritualmente, consultar entidades, ancestrais ou forças da natureza, buscando orientação, visões e profecias. Ao retornar, ele relatava tudo o que havia visto, transformando-se num verdadeiro ponte entre mundos.


Uma magia popular, mas sagrada


Embora a imagem do Seidhr muitas vezes seja associada ao místico e ao oculto, ele era também uma prática comunitária. Era exercida por lavradores, pastores, ferreiros, músicos e artistas, e estava presente nas aldeias e clãs como uma forma de se conectar com o invisível e tomar decisões guiadas por uma sabedoria superior.


Por ser muito ligada ao feminino, ao corpo, à terra e ao espírito, o Seidhr representa uma forma de magia que não apenas busca o poder, mas a sabedoria que nasce do silêncio, da escuta e da presença plena.


Seidhr nos dias de hoje


Com o ressurgimento das tradições pagãs e nórdicas modernas, o Seidhr tem ganhado novamente espaço entre praticantes que buscam uma conexão autêntica com os espíritos e a natureza. Sua prática exige preparo, respeito e entrega.


Para quem caminha pelas trilhas da espiritualidade ancestral, o Seidhr não é apenas uma técnica, mas uma forma de viver a magia em comunhão com os deuses, com os ancestrais e com os ritmos eternos da Terra.

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